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Matérias sobre o Esculacho da Frente de Esculacho Popular a Carlos Alberto Augusto, torturador e assassino da Ditadura Civil Militar
Folha de S. Paulo
04/05/2013 – 18:05
‘Esculacho’ pede saída de delegado que foi agente na ditadura
O Globo
4/05/13 – 18:07
Protesto de ex-presos políticos pede a saída de delegado que foi agente da ditadura
Carta Capital
04/05/2013 – 14:03
Grupo pede afastamento de delegado que atuou na ditadura
Rede Brasil Atual
04/05/2013 – 17:24
Grupo pede afastamento de delegado que atuou na ditadura
Sul 21
4/mai/2013 – 16:02
Carlinhos Metralha, agente da ditadura, é “esculachado” em São Paulo
VioMundo, da Conceição Leme
4/mai/2013 – 15:09
Torturador da ditadura, o delegado Carlinhos Metralha é esculachado
Brasil de Fato
4/mai/2013
Carlinhos Metralha, agente da ditadura, é “esculachado” no interior de SP
Bom dia Itatiba
Manifestantes pedem saída de delegado
Record
04/05/2013 – 20:12
População de Itatiba (SP) protesta contra nomeação de ex-torturador da ditadura
Suíte na Carta Capital
05/05/2013 – 21:05
Carlinhos Metralha: “Não havia tortura na ditadura”
Punto Rosso, publicaçao italiana, p.5
Pulsamérica
06/05/2013
Brazil: ‘Esculacho’ organized against former military agent
Carta aos moradores de Itatiba: biografias dos militantes do Massacre da Chácara São Bento e envolvimento do delegado Carlinhos Metralha
Carta aos moradores di Itatiba sobre Carlos Alberto Augusto, delegado da cidade, torturador e assassino da Ditadura
Vídeo | Frente de Esculacho Popular pede condenação do torturador Homero César Machado
Fotos do Esculacho de Homero César Machado, torturador e assassino da Ditadura
Matérias sobre o Esculacho da Frente de Esculacho Popular a Homero Cesar Machado, torturador e assassino da Ditadura Civil Militar
Blog do Sakamoto
20/10/2012 – 8:49
Protesto expõe acusado de tortura durante a ditadura militar em São Paulo
Folha de S. Paulo
20/10/2012 – 16:06
Grupo protesta contra militar citado por Dilma como responsável por tortura
Agência Brasil
20/10/2012 – 19:04
Em SP, manifestantes fazem protesto em frente a prédio onde mora acusado de tortura durante a ditadura
Passa a Palavra
20/10/2012
Mais um torturador é esculachado em São Paulo
Thaís Barreto
21/10/2012
Esculacho pra que?
Terra via Agência Brasil
20/10/2012 – 18:11
Protesto é realizado em prédio de acusado de tortura na ditadura
Rede Brasil Atual via Agência Brasil
20/10/2012 – 19h35
Frente do Esculacho ‘homenageia’ militar que comandava sessões de tortura
Correio Braziliense via Agência Brasil
21/10/2012 – 11:07
Em São Paulo, protesto em frente a casa de acusado de torturar na ditadura
Manifesto contra Homero Cesar Machado
A Frente de Esculacho Popular volta às ruas neste dia 20 de outubro para mostrar que não nos esqueceremos de lembrar de nossos mortos, torturados e desaparecidos e tampouco daremos descanso para os autores destas brutalidades. Homero César Machado, ou “Doutor Homero”, foi um dos principais torturadores do DOI-Codi e goza hoje de todos os benefícios de uma aposentadoria tranquila, ao contrário das vítimas e familiares de suas brutalidades.
Genitais esmagadas, roletas russas, choques, espancamentos, “trono do dragão” (cadeira eletrificada) e o pau-de-arara (que consistia em manter o preso de ponta-cabeça e espancá-lo e eletrocutá-lo) eram ferramentas de costume do Capitão Homero e de sua equipe. Relatos de torturados enfatizam que eles não faziam questão de ocultar suas identidades e entre privações alimentares, desmaios causados pela dor e mortes de companheiros, conseguiram gravar os responsáveis por tais violações.
Virgilio Gomes da Silva (morto e torturado por Homero), Reinaldo Morano Filho, Roberto Macarini (suposto suicida), Antonio Roberto Espinosa, Celso Antunes Horta, Vinicius Jose Nogueira Caldeira Brandt, Tito De Alencar Lima (Frei Tito – suicida em 74) e Heleny Guariba pagaram com seus corpos o preço de suas ideias. Todos eles passaram pelas mãos torturadoras de Homero.
As vozes do poder tentam dissimular esse passado elegendo seletivamente porta-vozes revisionistas da geração, que nos pedem para “esquecer tudo que escreveram”. A imprensa marrom minimiza a ditadura como um episódio brando, reproduzindo a expressão “ditabranda”, citação direta do genocida chileno Augusto Pinochet em 1983.
Sabemos que quando se isola a Ditadura militar e se fixa a mesma no passado longínquo, como algo que nunca voltará a acontecer, se acobertam as arbitrariedades continuam por parte dos agentes militarizados do Estado. Na verdade é como se os gritos daqueles mortos e desaparecidos voltassem a ser ouvidos. A tortura é uma prática institucional do Estado ainda hoje.
A todo instante esquecemos que enquanto estamos aqui, alguma pessoa deve estar sendo torturada em alguma delegacia ou prisão no Brasil. Assim, buscamos mostrar que um levante contra a tortura do passado, só pode ser um levante contra tortura do presente.
Sentimos a necessidade histórica de ir para as ruas buscar expor para o bairro, para os vizinhos, para a cidade, para a família, colegas e toda a população, em atos de memória militante, nosso passado fraturado. Assim age a Frente de Esculacho Popular: não deixamos dormir quem não nos deixa viver.
Os Escraches Populares na Argentina e também as Funas Chilenas foram nossa inspiração. Em todos estes países foi necessária uma forte pressão popular para o julgamento e a punição dos militares genocidas. Por isso, cansados de tanto sermos esculachados impunemente, sentimos a necessidade de construir o Esculacho Popular, como uma forma de expor, lembrar e acusar os responsáveis pelos crimes da ditadura, homenageando nossos mortos e desaparecidos políticos, refletindo sobre o esquecimento e pressionando a sociedade e o Estado por justiça e pelo fim da impunidade.
Hoje estamos aqui também para interrogar, para buscar na memória de nossos mortos e desaparecidos um sentido para a compreensão do horror. Porém, só conseguiremos isso interrogando não apenas a memória de suas mortes, mas também o sentido da luta destes camaradas.
Somos militantes da vida. Acreditamos que assim podemos interrogar e disputar o significado de juventude que queremos. Uma identidade combativa de juventude que representou esta geração, uma memória viva na militância. Esta identidade oculta de uma geração que buscava, muito além de uma democracia burguesa, uma perspectiva revolucionária anticapitalista.
Aqui estamos para um ato militante que reivindica uma memória combativa. Porque desejamos este sentido de juventude para nós, para os mais novos, para nossos filhos e netos. Porque não aceitamos mais apenas a caricatura do jovem alienado e consumista que nos impõe a indústria cultural. Queremos disputar aquele sentido militante que aprendemos. É este sentido de juventude combativa e irredutível em sua luta que queremos celebrar.
Lembramos como viveram e morreram para continuar lutando para que acabe a roda viva da desigualdade e da opressão contra os mais pobres. Sabemos que a impunidade dos torturadores é a correia de transmissão que sistematiza e intensifica a continuidade das práticas de brutalidade pela Polícia e pelo Exército no Brasil.
Estamos aqui não porque queremos revanche, mas porque queremos justiça! Porque sabemos que a verdade e a memória não se fazem sem a justiça.
Estamos aqui porque há polícia por toda parte e justiça em lugar nenhum. Os mesmos métodos da ditadura foram utilizados nos crimes de maio de 2006, na USP, na Cracolândia, no Pinheirinho, no Quilombo dos Macacos, contra os Guarani Kaiowá, em Sonho Real, em Eldorado dos Carajás, no Carandiru, nos assassinatos dos Sem Terra e com tantos militantes e jovens negros e pobres pelas periferias do país.
Estamos aqui porque não compartilhamos da covardia dos torturadores. A tortura é o assassinato da alma de um povo, de suas ideias e sonhos. A tortura é a prisão da utopia.
Assim, denunciamos que a repressão, a tortura, o extermínio seletivo não começaram e não terminaram com a ditadura militar. Permanecem como uma prática institucional, como instrumento da criminazação da pobreza, e no machismo, na homofobia, no racismo e na repressão política. Contra este avanço contínuo dos discursos e práticas neo-conservadores e proto-fascistas o horizonte anuncia tempos onde a unidade e a combatividade serão mais do que nunca necessárias. Onde grupos de diferentes tendências, partidos, agrupamentos e linhas políticas anticapitalistas devem se unir, para além dos diferentes matizes, para resistir às ofensivas da extrema direita. A Frente de Esculacho Popular se integra neste esforço e saúda todos os aliados.
Os gorilas de pijamas se agitam, assustados por virem a ser convocados a falar ou punidos por seus crimes. Mas eles têm medo, porque agora já não sentimos medo. Não esquecemos os 426 mortos e desaparecidos políticos! Suas vozes seguirão soando porque para nós eles não morreram, permanecem presentes em nossa luta.
Justiça e Punição para todos responsáveis e co-responsáveis, civis e militares pelo extermínio na ditadura militar. Pelo fim da farsa da Lei da Anistia para torturadores.
Não esquecemos, não perdoamos, não reconciliamos!
Se não houver justiça, haverá esculacho popular!
Ações em SP relembram mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar
Aconteceram ontem (03/05) mais três ações em São Paulo para relembrar os mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar. As ações, de autoria da Frente de Esculacho Popular, integraram a Semana Nacional de Memória, Verdade e Justiça.
No alto da Lapa foram espalhadas diversas imagens de Ísis Dias de Oliveira, feitas com stencil em postes próximos à praça de mesmo nome, onde ela morou. A jovem combatente de 31 anos, militante da ALN (Ação Libertadora Nacional), desapareceu em 1972.
No mesmo bairro, à rua Pio XI, 767, aconteceu no dia 16 de dezembro de 1976 o chamado “massacre da Lapa”. Dois dirigentes do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), Ângelo Arroyo e Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar foram sumariamente assassinados pelas forças de repressão da ditadura. Além deles, João Batista Franco Drummond, que também estava presente no momento, foi preso e encaminhado ao DOI-Codi e morto sob tortura. No local, seus rostos foram pintados com stencil e uma placa de rua foi colocada em um poste.
Na rua Serra de Botucatu, no Tatuapé, há 40 anos as forças da repressão também assassinaram outras três pessoas. Napoleão Felipe Biscaldi, funcionário público aposentado passava pela rua no momento da ação e foi atingido. Mas o objetivo era executar dois jovens militantes da MOLIPO (Movimento de Libertação Nacional), Alexander José Ibsen Voerões e Lauriberto José Reyes, que foram brutalmente assassinados a tiros. No local também foi colocada uma placa de rua com seus nomes e seus rostos foram reproduzidos em stencil pela região.
Nos três locais, cartas foram entregues aos vizinhos e deixadas nas caixas de correio, contando a história dos militantes e o que aconteceu ali. O objetivo da ação foi relembrar a morte e manter viva sua memória desses militantes que dedicaram suas vidas à um país mais justo, a uma sociedade melhor. Essas mortes não podem ser esquecidas para que nunca se repitam.
Não esquecemos! Por Memória, Verdade e Justiça! Chega de impunidade!
Manifesto
DIA DO ESCULACHO POPULAR
Neste dia de sábado, 7 de abril, dia do médico legista, viemos homenagear com uma coroa de flores nossos camaradas tombados e combater o esquecimento. Por todos os documentos e depoimentos colhidos por familiares, sobreviventes e historiadores temos certeza da conivência e da participação direta de médicos e enfermeiros na prática de torturas. Inúmeras vezes estas práticas alcançavam limite da resistência física. Os médicos que, freqüentemente, forneceram laudos falsos, acobertaram sinais evidentes de tortura e também ocultaram a real causa da morte daqueles que foram assassinados. Ao apontar Harry Shibata e o que significa sua atuação na ditadura, queremos descobrir um pouco mais de como funciona o esquecimento.
De acordo com o Dossiê da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos políticos, apenas nos primeiros meses após o golpe militar 50.000 pessoas foram presas; 7.367 indiciados; 10.034 atingidos na fase de inquérito; 707 processos na Justiça Militar por crimes contra segurança nacional; 4 condenados à pena de morte; 130 banidos; 4.862 cassados; 6.592 militares atingidos; milhares de exilados; e milhares de camponeses assassinados. Chega-se a falar que o número total de pessoas torturadas é de 30.000 pessoas torturadas. E um total de pelo menos 426 mortos e desaparecidos políticos já foram denunciados e investigados há muitos anos.
Os motivos das mortes indicadas nos laudos necroscópicos, em sua maioria, coincidiam exatamente com a “versão oficial” dos acontecimentos. Tais como: “atropelamentos”, “suicídios”, “mortes em tiroteio”, na busca de ocultar qualquer evidência de tortura. Na maioria das vezes estes documentos são repudiados pelos depoimentos de vítimas sobreviventes que presenciaram as mortes, no interior dos órgãos de repressão, em conseqüência das torturas sofridas.
Os médicos-legistas, geralmente vinculados às Secretarias de Segurança Pública, participaram também na ocultação de cadáveres re-encaminhando os corpos para os cemitérios clandestinos. O objetivo desse comportamento era impedir, dificultar e desestimular que os familiares, ao encontrarem o corpo dos mortos, nas raras ocasiões em que encontravam, pudessem constatar as marcas das sevícias neles praticadas.
Nos processos no Projeto Brasil Nunca Mais pode-se perfeitamente identificar nomes de médicos-legistas responsáveis pela feitura de laudos para o acobertamento das mortes sob tortura. Além de Harry Shibata, eis alguns exemplos: em São Paulo Arnaldo Siqueira, Abeylard de Queiroz Orsini, Orlando José Bastos Brandão e Isaac Abramovitc; no Rio de Janeiro, Elias Freitas, Rubens Pedro Macuco Janini, Olympio Pereira da Silva; em Minas Gerais, Djezzar Gonçalves Leite; em Pernambuco, Ednaldo Paz de Vasconcelos.
Estes médicos, que utilizaram seus conhecimentos para esconder a violência do terrorismo de Estado, são exatamente uma das peças centrais da amnésia histórica. Não foram um ou dois monstros desumanos, foi uma estrutura institucional do Estado que funcionava como uma engenharia da mentira e do acobertamento. O esquecimento do extermínio faz parte do extermínio.
Trata-se simplesmente da domesticação da memória. As vozes do poder tentam dissimular o passado elegendo seletivamente porta-vozes revisionistas da geração, que nos pedem para “esquecer tudo que escreveram”. A imprensa marrom minimiza a ditadura como um episódio brando, reproduzindo a expressão “ditabranda”, citação direta do genocida chileno Augusto Pinochet em 1983.
Alguns se colocam como se fossem os exclusivos responsáveis pela conquista da democracia. Como se ela tivesse sido inteiramente conquistada e como se não a conquistássemos cada dia, como se a luta de classes desaparecesse pelo simples direito mínimo ao voto direto. E terminam por isolar o golpe como um acaso histórico. Mas sabemos que quando se isola a Ditadura militar e se fixa a mesma no passado longínquo, como algo que nunca voltará a acontecer, se acobertam as arbitrariedades continuam por parte dos agentes militarizados do Estado. Na verdade é como se os gritos daqueles mortos e desaparecidos voltassem a ser ouvidos. A tortura é uma prática institucional do Estado ainda hoje.
E a todo instante esquecemos que enquanto estamos aqui, alguma pessoa deve estar sendo torturada em alguma delegacia ou prisão no Brasil. Assim, buscamos mostrar que um levante contra a tortura do passado, só pode ser um levante contra tortura do presente.
Por outro lado, se aplica a teoria dos dois demônios. Como se os mortos e desaparecidos políticos fossem responsáveis por sua própria morte. Como se a guerrilha ou o direito de uso da violência contra um regime opressivo justificasse a tortura e a execução sumária. A Lei de Anistia cinicamente reproduz esta lógica perversa. Como se nós, por buscarmos justiça, fossemos revanchistas.
Existem atualmente processos de ação civil contra torturadores como Carlos Brilhante Ustra, Audir Maciel e outros que não se enquadram na área criminal, porque estão blindados juridicamente na Lei de Anistia. Existem processos movidos pelo Ministério Público Federal contra Paulo Maluf, Romeu Tuma e Harry Shibata mas estão travados na justiça. Outros processos têm sido apresentados pelos promotores levando em conta a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que, .em dezembro de 2010, condenou o Brasil a investigar e punir todos os crimes da ditadura militar. Mas vigora a Lei da Anistia que configura um acordo entre carrascos que extorquiram uma falsa reconciliação. E esta Lei hoje protege com uma vergonhosa fortaleza de mentira jurídica estes criminosos de guerra, peças mestras do terrorismo militar de Estado durante a ditadura.
A Comissão da Verdade assim como os processos jurídicos são um combate necessário no campo da luta institucional para a exposição, apuração e punição dos agentes do Estado, militares e civis, dos médicos, dos empresários e da imprensa colaboradora do regime. Mas acreditamos que apenas com a auto-organização de situações e espaços de poder popular e de memória militante poderemos re-costurar as fraturas da memória social.
Propomos este ato no Dia do Médico Legista na esperança de que ainda podemos contribuir coletivamente para romper a engenharia do extermínio. Na certeza de que a verdade, a memória e a justiça também dependem das ruas e não apenas das reuniões nos palacetes de governo e acordos de cúpula. Para derrubar a interpretação da Lei de Anistia que protege os assassinos e torturadores temos que nos unir e nos organizar.
Sentimos a necessidade histórica de ir para as ruas buscar expor para o bairro, para os vizinhos, para a cidade, para a família, colegas e toda a população, em atos de memória militante, nosso passado fraturado. E assim aqui inauguramos a Frente de Esculacho Popular com a figura do famigerado Médico Legista da Ditadura, Harry Shibata.
Esculacho é um termo popular utilizado na maior parte das vezes para referir-se às ações de brutalidade cotidiana policial de que os agentes militarizados do Estado se utilizam, sobretudo contra a população pobre do Brasil.
Os Escraches Populares na Argentina e também as Funas Chilenas foram nossa inspiração. Em todos estes países foi necessária uma forte pressão popular para o julgamento e a punição dos militares genocidas. Por isso, cansados de tanto sermos esculachados impunemente, sentimos a necessidade de construir o Esculacho Popular, como uma forma de expor, lembrar e acusar os responsáveis pelos crimes da ditadura, homenageando nossos mortos e desaparecidos políticos, refletindo sobre o esquecimento e pressionando a sociedade e o Estado por justiça e pelo fim da impunidade.
Hoje, no Dia do Médico Legista, viemos visitar Harry Shibata, o Legista da Ditadura. Alerta cidadãos de São Paulo, este sujeito que passeia hoje no bairro de Pinheiros como um honrado cidadão, um bom velhinho, escrevia um “T” vermelho nos laudos daqueles que ele condenaria ao esquecimento, ao desaparecimento.
Harry Shibata ensinava aos policiais torturadores quais as partes do corpo onde deviam torturar e agredir de forma a não deixar marcas para o exame de corpo delito. Prática que é realizada até hoje por toda a polícia brasileira e também ensinada nas delegacias aos jovens torturadores.
Harry Shibata assinou o laudo falso em que Carlos Mariguela foi dado como morto em tiroteio, quando na verdade ele foi executado com diversos tiros, prática hoje comum nas periferias.
Harry Shibata é responsável pelo laudo falso do suicídio de Vladimir Herzog, forjado em uma foto hoje desmascarada. E pelo laudo de Sonia Maria de Moraes, que depois de brutalmente torturada, foi estuprada por um cassetete até que se dilacerassem seus órgãos internos e teve seus seios arrancados. Shibata assinou um laudo de morte em tiroteio. E poderíamos levantar ainda tantos e tantos outros casos.
Hoje estamos aqui também para interrogar, para buscar na mermória de nossos mortos e desaparecidos um sentido para a compreensão do horror. Porém, só conseguiremos isso interrogando não apenas a memória de suas mortes, mas também o sentido da luta destes camaradas.
Somos militantes da vida. Acreditamos que assim podemos interrogar e disputar o significado de juventude que queremos. Uma identidade combativa de juventude que representou esta geração, uma memória viva na militância. Esta identidade oculta de uma geração que buscava, muito além de uma democracia burguesa, uma perspectiva revolucionária anticapitalista.
Aqui estamos para um ato militante que reivindica uma memória combativa. Porque desejamos este sentido de juventude para nós, para os mais novos, para nossos filhos e netos. Porque não aceitamos mais apenas a caricatura do jovem alienado e consumista que nos impõe a indústria cultural. Queremos disputar aquele sentido militante que aprendemos. É este sentido de juventude combativa e irredutível em sua luta que queremos celebrar.
Lembramos como viveram e morreram para continuar lutando para que acabe a roda viva da desigualdade e da opressão contra os mais pobres. Sabemos que a impunidade dos torturadores é a correia de transmissão que sistematiza e intensifica a continuidade das práticas de brutalidade pela Polícia e pelo Exército no Brasil. Temos que reaver nossa história que foi seqüestrada e desaparecida junto com os corpos de nossos camaradas. Para isso temos que constituir um trabalho de identificação de sítios e lugares de memória da violência da repressão, uma geografia política da memória que exponha os responsáveis e que nos ajude a não esquecer onde e como se passaram estes crimes.
Estamos aqui não porque queremos revanche, mas porque queremos justiça! Porque sabemos que a verdade e a memória não se fazem sem a justiça.
Ainda que tenha oficialmente terminado a ditadura, as instituições brasileiras de maneira geral guardam incontáveis reminiscências da estrutura autoritária. Especialmente na sua polícia, nos seus métodos de violência, coerção e controle social, na tortura e nas execuções sumárias. Isso é um fruto direto da impunidade e do esquecimento.
Estamos aqui porque há polícia por toda parte e justiça em lugar nenhum. Os mesmos métodos da ditadura foram utilizados nos crimes de maio de 2006, na USP, na Cracolândia, no Pinheirinho, no Quilombo dos Macacos, contra os Guarani Kaiowá, em Sonho Real, em Eldorado dos Carajás, no Carandiru, nos assassinatos dos Sem Terra e com tantos militantes e jovens negros e pobres pelas periferias do país.
Assim, denunciamos que a repressão, a tortura, o extermínio seletivo não começaram e não terminaram com a ditadura militar. Permanecem como uma prática institucional, como instrumento da criminazação da pobreza, e no machismo, na homofobia, no racismo e na repressão política. Contra este avanço contínuo dos discursos e práticas neo-conservadores e proto-fascistas o horizonte anuncia tempos onde a unidade e a combatividade serão mais do que nunca necessárias. Onde grupos de diferentes tendências, partidos, agrupamentos e linhas políticas anticapitalistas devem se unir, para além dos diferentes matizes, para resistir às ofensivas da extrema direita. A Frente de Esculacho Popular se integra neste esforço e saúda todos os aliados.
Recentemente centena de oficiais da reserva assinaram um documento de insubordinação face ao governo que desautorizava o Ministro das Forças Armadas, Celso Amorim. Estes gorilas de pijamas se agitam, assustados por virem a ser convocados a falar ou punidos por seus crimes. Mas eles têm medo, porque agora já não sentimos medo. Não esquecemos os 426 mortos e desaparecidos políticos! Suas vozes seguirão soando porque para nós eles não morreram, permanecem presentes em nossa luta.
Exigimos que Harry Shibata seja intimado para depor na Comissão da Verdade, que seja julgado e punido por seus crimes! Justiça e Punição para todos responsáveis e co-responsáveis, civis e militares pelo extermínio na ditadura militar. Pelo fim da farsa da Lei da Anistia para torturadores.
Não esquecemos, não perdoamos, não reconciliamos!
Se não houver justiça, haverá esculacho popular!